segunda-feira, novembro 27, 2006

Blackest eyes

Penso que tinha os olhos negros. Assemelhavam-se à escuridão do seu ser. Os braços secos. Os olhos achinesados. Um olhar ríspido. Deitava-nos sobre a cama. Cobria-nos com mantas pesadas, tão pesadas quanto a demência que a possuíra há muitos anos. Vinha a corda. Uma corda grossa, usada para dominar um animal que se odeia. Atava-nos. Bem. Muito bem. Várias voltas. Penso que eram 3 as voltas que a corda dava, roçando-se nos corpos para que nada escapasse. Nem a dúvida. Dizem os "antigos" que aos dezanove anos vira, num campo, um homem enforcar-se. Ao vê-lo, firme, o demónio do suicida teria transitado para o seu corpo.
Não a vejo há 20 anos. Revejo-a todos os dias. Numa colher que avisto ao abrir a gaveta. Numa pedra atirada ao ar. Numa simples sopa. Numa meia. Num grito aguçado. Ela é o meu fantasma. Para sempre.

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