quinta-feira, outubro 18, 2007

To Augusto

Carta do meu irmão, que foi missionário, em Cuamba, Província de Niassa, em 1998:


"Ontem, por coincidência ou não, telefonou-me um antigo aluno meu, o Augusto Jaime.
O Augusto nasceu no Norte de Moçambique no Niassa a província mais pobre do país (os trás montes de lá). Quando ainda era criança, teve que andar de aldeia em aldeia por causa da Guerra. Chegou a ver vizinhos que morreram por não terem saído da aldeia a tempo. O Augusto esteve 3 anos (dos 8 aos 11 penso eu) sem os pais quando estes o deixaram no lar da escola secundária de Cuamba. Ficou sozinho sem nenhum apoio num lar que dá duas refeições por dia (farinha de milho e feijão continuamente) e que fecha durante as férias escolares sem providenciar comida. Segundo ele me contava, havia dias em ficava o dia inteiro sem comer. Ele tinha que passear para esquecer a fome e para tentar arranjar alguns trabalhinhos para arranjar alguma comida que pessoas locais tinham da sua machamba (quinta).
No 10º ano, ele ia chubando porque recusou-se ir carregar os tijolos do professor como forma de corrupção. Felizmente, uma missionária local interviu e permitiu que o Augusto concorresse à escola que tinha acabado de abrir. O Augusto fez a 12ª classe e foi depois para universidade Eduardo Mondlane em Maputo fazer o curso de Engenharia Agronóma. Desda da 10ª classe até ao último ano de universidade (e provavelmente antes também), ele sempre foi o melhor aluno. Em 2005/2006, ele fez um estágio sobre sistemas de rega aqui em Portugal.

Ontem telefonou-me e falou-me do trabalho dele numa empresa na área de agronomia liderada por británicos e que estão muito contentes com ele. O Augusto ganha actualmente perto de 800 euros por mês num país em que salário médio anda à volta de 50 euros (?). O Augusto representa aquilo pelo qual nos levantamos ontem: o combate à pobreza. Não precisamos de ir para África para combater a pobreza. Precisamos sim de acreditar que as coisas podem mudar e fazer por isso, segundo o nosso estilo de vida e as nossas possibilidades (sempre relativas e subjectivas claro).

Em nome de todos os pobres, quero agradecer a todos vós que se juntaram a este gesto pequeno mas real e útil!

Bom resto de dia!

Yves Vieira"

Love my brother! Miss Augusto.

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