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A vida tem sido sempre muito estranha....passei ontem por esferas de luz que parecem não me terem largado pelo caminho de regresso a Lisboa. Recordo tantas caras: caras de luz ténue, caras de espírito bravo.
Mas é sem dúvida, o eclipse lunar que mais me assombrou na noite, minha amante cobrindo-me num terreno perdido em Querença. No meio do nada, ergue-se no suspiro de um caminho vagabundo, o mítico antro Satori.
Impera a vontade de vos contar um pouco mais acerca deste espaço surreal. O Satori em tempos serviu de esconderijo a um serial killer português que acabou por matar, naquele lugar, seis polícias. Não adianto nomes para não ferir nem alimentar mais a ferida. Este senhor, com pena já cumprida costuma deslocar-se ao Satori 6(66) vestindo o traje de homem comum, vertendo líquidos etílicos para o fundo mais profundo da sua alma. Talvez para que o profundo arda sem se ver.
Apenas acrescento que ao pisar o chão incerto do Satori, sente-se um leve despego da pele sobre a carne. Num dos quartos, alucinei. É comum alucinar, e alucino sempre com animais. No Satori, salta-me do ar por duas distintas vezes um felídeo malhado. Nestes instantes de transe, apenas vos digo, que me habituei a não procurar entendimento. Somos nesta vida, amputados de capacidades extra-sensoriais para bem da humanidade. Nada é ao acaso.
Estranhamente, fiz a viagem no banco traseiro da Raging Van, sempre com a Lua espetada no quadro da estrada, minha parceira de crime. Luzia, adormecida, amando cada pestenejar do meu olhar. Olhava para ela, fechada em segredos. Somos cúmplices: guardamos tesouros que nos querem roubar. Continuamos a brilhar na plenitude de um universo por explicar. Shining through Darkness:)